Oi.
Desculpa te mandar uma mensagem assim, tão em cima da hora. Mas é que eu pensei muito e percebi que não vou conseguir ir ao nosso encontro de daqui a pouco. Conseguir talvez nem seja a palavra. Acho que eu não quero mesmo.
Não que eu não queira te ver e estar com você. Aliás, descobri que essa é uma das coisas que mais quis na vida até hoje. O que acontece é que não vai dar pra levar isso adiante e a culpa é toda minha. Da minha noção exata e realista de onde isso vai acabar, da minha sensação de que estarmos aparentemente vivendo uma grande paixão não nos garantirá felicidade, muito pelo contrário. Por isso, sei que pode parecer excesso de racionalismo, mas não vou poder ir ao seu encontro hoje.
Eu digo isso com uma enorme dor. Dor de desperdiçar esse teu toque com o qual tanto sonhei. Saber que estes teus olhos não chegarão bem perto dos meus me fez perder o sono nessa última noite. É bem difícil pra mim admitir que o melhor a fazer é não me jogar nos teus braços e abraços e nem respirar seu perfume como se ele fosse o próprio ar.
Você viu o que acabei de fazer? Romantizei, exagerei, idealizei. É isso que eu faço. Algumas pessoas são boas em contabilidade, outras em música. Tem aqueles multitalentosos que possuem uma brilhante carreira de direito e à noite jogam basquete muito bem, apenas por hobby. Já eu sou especialista em exageros e idealizações. Ninguém é melhor do que eu nisso. Se houvesse um Nobel do exagero, o prêmio seria meu em todos os anos. Aliás, o prêmio teria o meu nome.
E é principalmente por isso que eu não poderei ir ao seu encontro hoje. Eu sei que já estamos combinando esse dia há tempos. Sei que você se preparou, organizou sua agenda cheia para que sobrasse esse tempinho pra gente se curtir, tomar um vinho e talvez quem sabe café da manhã. Mas eu sinto que não vai ser bom negócio pra mim e que o espaço entre essas duas atividades vai me ferrar a cabeça por alguns anos. E meu terapeuta recomendou que eu não troque algumas horas por vários anos.
Desculpe a mensagem longa. Seria pior se eu mandasse áudio, pode apostar. Vou ficar em casa lendo um livro ou quem sabe vendo aquela série que todo mundo diz que é ótima. Qual é o nome mesmo? Ah, deixa pra lá. A verdade que eu não estou querendo admitir é que vou ficar olhando fixamente para aquela caneta que você me deu, ouvindo Duran Duran no repeat e torcendo pra que amanhã eu não acorde cantando But I won’t cry for yesterday, lembrando de tudo o que essa noite poderia ter sido e não vai ser.
Mas vai ser melhor assim. Acho.